A Arte na divulgação do Espiritismo

 

Rogério Felisbino da Silva

 

O Espiritismo é um arcabouço doutrinário perfeitamente estruturado, de fundamentação eminentemente filosófica, com bases científicas e conseqüências ético-morais calcadas no Evangelho do Cristo. Sem a intenção de fazer qualquer proselitismo, podemos afirmar, com certeza, que a Doutrina Espírita representa, na atualidade, o mais completo tratado a respeito da vida, trazendo profundas reflexões sobre questões pétreas da Humanidade, como a origem, a natureza e o destino dos homens, a finalidade da vida e a razão do sofrimento. Através dos ensinos desta revelação divina, o homem descobre-se como ser imortal, criado por Deus soberanamente justo e bom; tem notícias a respeito do seu futuro, incondicionalmente ligado ao seu presente e ao seu passado, através da Lei de Causa e Efeito; e mais: percebe que leis soberanamente justas e imutáveis regem seu destino, o qual se caracteriza pela busca do permanente aperfeiçoamento, através da conquista da sabedoria e do despertamento dos sentimentos.

Diante de tantos benefícios trazidos ao homem, e conseqüentemente à Humanidade, é mais que oportuna a orientação do espírito Emmanuel, quando este nos informa que a maior caridade que podemos fazer, em relação à Doutrina, é a sua divulgação.

Não por outra razão, temos visto, por este Brasil afora, o empenho incansável das instituições espíritas e dos órgãos federativos nesta grandiosa tarefa de difundir o Consolador prometido pelo Cristo a todos os rincões, através das mais variadas formas, seja nas atividades rotineiras da Casa Espírita, como as palestras públicas, as reuniões de estudo doutrinário e os trabalhos assistenciais, como também nos eventos e promoções, aí incluindo-se os encontros, seminários, congressos, work-shops e outros tantos.

A partir da década de 1980, temos observado o desabrochar de uma nova modalidade de divulgação doutrinária, a qual se revela portadora de um grande potencial de eficiência, haja vista tocar o espírito humano no que ele tem de mais sensível: os seus sentimentos. Estamos falando da Arte, nas suas mais variadas formas de expressão.

Acompanhando a imprensa espírita nacional e também o movimento espírita em nosso Estado, temos notícias do surgimento de grupos espíritas que se propõem a falar de Espiritismo sob a forma de arte. São peças teatrais, músicas, danças, expressões corporais, poesias, exposições de artes plásticas, mesclados em apresentações e shows, nos mais variados estilos artísticos, alem de filmes e vídeos, que têm trazido ao grande público preciosas oportunidades de reflexão a respeito de pontos fundamentais da Doutrina Espírita. E um aspecto que é muito importante: na grande maioria das vezes, o público expectador desses espetáculos tem sido de pessoas não espíritas que, atraídas pelas temáticas apresentadas, acabam recebendo valiosas mensagens de fundo doutrinário.

Se, por um lado, é salutar sabermos que o movimento artístico espírita está despontando, e com muita rapidez, por outro, não podemos desconsiderar a preocupação que devemos ter com relação à qualidade que esse trabalho de arte vem apresentando. Entendemos ser completamente inconveniente apresentar um trabalho artístico, que se propõe a divulgar a Doutrina Espírita, e que peca no quesito qualidade. É falta de respeito para com o público e para com a própria Doutrina.

Assim como qualquer outra atividade na seara espírita, o trabalho com arte deve ser realizado com muita seriedade e responsabilidade. Arte não é apenas entretenimento, ou mera distração para jovens e crianças. Arte é um canal extraordinário de educação, através do qual mexemos com conteúdos psíquicos que jazem adormecidos nas entranhas da alma. Quando mal conduzida, a arte pode levar a criatura a cometimentos infelizes, como temos observado com várias personalidades do meio artístico; quando iluminada por ideais superiores, entretanto, revela-se como um manancial extraordinário, de onde extravazam sentimentos que levam a criatura humana ao deleite e à contemplação, fazendo-a sentir-se parte integrante do universo e filha bem amada de Deus.

Ao falarmos em qualidade no trabalho de Arte Espírita, não estamos nos referindo tão somente à qualidade doutrinária, no sentido do respeito aos princípios do Espiritismo. Evidentemente, a preocupação com o conteúdo espírita é o ponto de partida para qualquer trabalho artístico espírita. Mas, além do conteúdo, é fundamental o respeito à técnica. A arte, seja qual for sua modalidade, exige, de quem a produz, o esforço intelectual, intuitivo e, também, físico. Se trabalhamos com arte, precisamos conhecer arte. Se nossa área é o teatro, torna-se necessário o estudo a respeito do “fazer teatral”; se trabalhamos com a música, é imprescindível o conhecimento das leis do ritmo, da vibração, da harmonia; e assim sucessivamente, em qualquer modalidade artística.

Aí está o grande desafio do artista espírita: unir o Espiritismo à Arte, duas coisas distintas, complexas, que possuem suas características próprias, mas que não são antagônicas. Quando unidos Espiritismo e Arte, harmoniosa e integradamente, o resultado será um trabalho que muito auxiliará o ser humano nesta grande epopéia que é a sua marcha evolutiva.

Temos consciência de que o trabalho com arte espírita ainda é incipiente. Já ouvimos vários oradores respeitáveis, como Divaldo Pereira Franco, afirmarem que o século que ora adentramos será o século das Artes. Porém, muito ainda nos falta para que cheguemos a um estágio de qualidade plena. Enquanto não chegamos lá, façamos humildemente nossas pequenas tarefas, procurando esforçar-se por estudar, tanto a Doutrina Espírita quanto as artes de modo geral, qualificando-nos para tal empreendimento, porque, como nos ensina o espírito André Luiz, “quando o servidor está pronto, o serviço aparece”.

DOCUMENTO ORIENTADOR

1B
Orientação sobre o uso da arte na atividade Espírita