1. Os primeiros anos do século 20 foram, para os espíritas do Brasil, de grandes dificuldades, diante dos acontecimentos tumultuosos da política, desde a proclamação da República. Em várias ocasiões, face a determinações dos poderes constituídos, os Centros e Sociedades Espíritas existentes foram fechados. Os pioneiros, que se arriscavam a permanecer realizando reuniões, eram condenados ao pagamento de elevadas multas e prisão.
2. Em Santa Catarina, todavia, os primeiros Centros (São Francisco do Sul, Laguna, Florianópolis…) tinham, em seus Diretores, verdadeiros mártires. O exemplo que o Codificador lhes dera fizera-se presente em suas almas. Apesar das dificuldades, das calúnias, das injúrias, seguiam, intimoratos, no seu elevado mister
3. Mas o Brasil estava predestinado a ser o celeiro do Espiritismo. A revista “Reformador”, da Federação Espírita Brasileira, fundada em 1883, continuava circulando normalmente. Em 1925, surge também, em Matão (SP) a “Revista Internacional de Espiritismo”, fundada por CairbarSchutel. Em 1932, Francisco Cândido Xavier faz publicar-se sua primeira obra psicografada, “Parnaso de Além Túmulo” (causando impasse nos meios acadêmicos) e, nos anos seguintes, outros tantos livros, ditados principalmente pelo Espírito Emmanuel.
4. A partir de 1930, Promotores e Juízes, ponderando que a Doutrina Espírita se diferençava de outras práticas, com as quais até então era confundido, passam a utilizar (embora erroneamente) os termos “baixo” e “alto” espiritismo, para que se identificassem os que seguiam as diretrizes emanadas da Codificação.
5. A década de 40, daquele século, que teve, nos seus anos iniciais, a participação do Brasil na 2ª. Guerra Mundial, causando dores acerbas à nossa população, foi, entretanto, beneficiada com a fundação da “Sociedade de Medicina e Espiritismo” e a “Cruzada dos Militares Espíritas”, fazendo compreender que esta Doutrina alcançava também as classes sociais mais elevadas.
6. Na mesma década, a partir de 1943, André Luiz, ainda através de Francisco Cândido Xavier, traz a lume a série “A Vida no Mundo Espiritual”, iniciando com o livro “Nosso Lar”.
7. A partir de então, as obras de Allan Kardec, principalmente “O Livro dos Espíritos” e “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, conjugadas à vida exemplar de Francisco Cândido Xavier, ofereceriam nova configuração pública sobre o Espiritismo, agora centralizada na compreensão de que os espíritas estudavam e praticavam a benemerência.
8. Luiz Osvaldo Ferreira de Mello, homem lúcido e previdente, observando, logo após o término da 2ª. Guerra Mundial, o crescimento do número de Casas Espíritas em nosso Estado, julgou oportuna e urgente a criação de uma Instituição que buscasse unificar esse Movimento que então eclodia.
9. O momento tornara-se adequado, pois que, com o término desse doloroso episódio da história da Humanidade terrena, serenaram consideravelmente eventuais perseguições e equívocos que até então eram direcionados aos espíritas, particularmente nas regiões onde muitos descendentes de cidadãos europeus haviam se estabelecido.
10. Todavia, em 1945, essa quantidade de entidades dispostas a difundir o Espiritismo em Santa Catarina já era superior a 20, sendo que mais da metade delas estavam instaladas em Florianópolis ou Municípios circundantes. As demais, até então conhecidas, tinham suas sedes em São Francisco do Sul, Laguna, Itaiópolis, Lages, Itajaí, Papanduva, Blumenau, Criciúma e Rio do Sul, uma em cada, dessas cidades.
11. Multiplicando-se através do território catarinense, esses Centros Espíritas não poderiam permanecer isolados, uns dos outros. Tornava-se imperioso implantar uma sistemática de troca de experiências, de união entre as mesmas, a fim de que permanecesse incólume a Doutrina revelada pelos Espíritos do Senhor, codificada inteligentemente pelo Sr. Allan Kardec.
12. Osvaldo Mello era conhecedor de um trabalho unificador já realizado em outros Estados, com a implantação de Instituições federativas, as quais, sem interferência na autonomia, própria das Casas Espíritas, procuravam meios para sanar dificuldades, dirimir dúvidas atinentes à Doutrina e auxiliar a todos os seus trabalhadores com soluções ou propostas que a vivência de outros já evidenciara.
13. Em tempos passados, antes de completar-se a segunda década do século 20, alguns pioneiros do Espiritismo haviam tentado a criação de uma Federação em nosso Estado. Entretanto, as poucas instituições espíritas existentes e as dificuldades de aceitação do Espiritismo, à época, represaram a ideia, ao ponto de a mesma diluir-se pouco após sua implantação. O momento não seria o mais conveniente.
14. E realmente, como a programação espiritual delineara esse surgimento para nova época, mais propícia, as circunstâncias levaram Osvaldo Mello, médium de excelentes possibilidades, no início dos anos 40, a repensar nas necessidades de uma Instituição norteadora para esse Movimento, então já em crescimento.
15. Esse irmão presidia, na ocasião, o Centro Espírita Amor e Humildade do Apóstolo, em Florianópolis, o terceiro mais antigo do Estado. Sempre conciliador, prudente, fraterno e humano, era frequentemente procurado por companheiros espíritas de outras Casas, mesmo das situadas no interior do território catarinense, a fim de orientar os caminhos mais adequados para a solução das dificuldades que se apresentavam. E ele o fazia com verdadeiro amor em seu coração, muitas vezes visitando pessoalmente esses Centros e Sociedades Espíritas, removendo os obstáculos que aqui ou ali tentavam obscurecer o Movimento em expansão.
16. Participou, em algumas ocasiões, de eventos realizados na Federação Espírita do Paraná, instituição hoje mais que centenária e que contara, durante anos, com a presença e o trabalho de Arthur Lins de Vasconcelos Lopes, com o qual passou a dialogar a respeito das possibilidades ora oferecidas ao Estado de Santa Catarina, assim como ouviu outro companheiro, no Rio Grande do Sul, Francisco Spinelli.
17. Foi com esses irmãos que se materializou a proposta da realização de um conclave, em Curitiba, no ano de 1943, com o objetivo de implantar o processo de Unificação Espírita, nos Estados do Sul do Brasil.
18. E Osvaldo Mello, por fim, trocou ideias com dirigentes das Casas Espíritas existentes no Estado, vendo então como inadiável a fundação da Federação Espírita Catarinense.
19. Convocados esses companheiros, envolvidos pelas mesmas vibrações emanadas da espiritualidade superior, reuniram-se, na noite de 24 de abril de 1945, na sede do próprio Centro Espírita Amor e Humildade do Apóstolo, sito à Rua Marechal Guilherme número 29, no centro da Capital.
20. O encontro foi deveras auspicioso, embora breve, pois todos os presentes já estavam devidamente cientificados dos grandes propósitos dessa novel entidade. E, imediatamente, foi constituída a primeira Diretoria, tendo Luiz Osvaldo Ferreira de Mello como seu Presidente, face aos seus esforços e ao trabalho já realizado, conforme acima mencionado.
21. Para consolidar o Movimento, Osvaldo Mello sentiu a necessidade de permanecer no cargo por vários anos (até 1968), não que desejasse perpetuar-se, pois os próprios associados à Federação e membros da equipe insistiam na sua permanência, visto não se visualizar, inicialmente, outro que tivesse o mesmo carisma e o mesmo empenho na Unificação, como ele o tinha.
22. Ele preparou o solo e iniciou a semeadura. Foi líder incontestável do Movimento Unificador.
23. Quando, porém, o registrou-se o momento apropriado, a convocação para esse trabalho de abnegação e devotamento foi atendida. E surgiram – e se seguiram – os nomes de incansáveis companheiros que procuraram dar-lhe continuidade, dentro dos mesmos propósitos, como desejava o valoroso fundador da Federação. Foram eles, pela ordem de mandato (embora alguns permanecessem por várias gestões): José Antonio S. Thiago, Hélio Abreu, Avelino Alves, Ary Kardec de Melo, Givaldo de Assunção Tavares, Telmo Souto Maior e Gerson Luiz Tavares, sem citarmos, aqui, um número grandioso de irmãos que participaram das diversas sucessivas Diretorias ou das atividades atinentes a esta organização federativa.
24. Atualmente, a Presidência da Federação Espírita Catarinense é ocupada pelo irmão Olenyr Teixeira, o primeiro dos que, realizando as tarefas próprias a esse encargo, reside em Município do interior do Estado, circunstância essa que vem a demonstrar que, com a formação de equipe de irmãos dispostos ao trabalho, é possível a qualquer outro trabalhador espírita que se disponha à tarefa, coordenar o Movimento e gerenciar as atividades cabíveis à sede da instituição, onde quer resida.
25. A então nascente Federação, entretanto, necessitava, o quanto antes, de uma sede, para suas atividades administrativas, pois não seria aconselhável a permanência no âmbito de um Centro Espírita, diante das particularidades cabíveis a uma entidade coordenadora e unificadora do Movimento Espírita como um todo, compreendendo-se, porém, que a FEC se encontra onde existir um Centro ou Sociedade Espírita a ela filiado.
26. Poucos anos após a sua fundação, com a aquisição de um terreno na Avenida Mauro Ramos e o precioso auxílio material prestado pelo irmão Lins de Vasconcelos, é finalmente erguido o primeiro edifício sede. No ato inaugural, ocorrido em 15 de fevereiro de 1952, estando presentes os Presidentes e outros dirigentes das Federações Espíritas, do Paraná e do Rio Grande do Sul, Lins de Vasconcelos, em seu pronunciamento, prenuncia a Osvaldo Mello que essa seria uma sede provisória – pois antevia o progresso e o desenvolvimento da cidade naquela direção e as dificuldades futuras para a manutenção da administração federativa naquele local.
27. No ano 2007, uma transação imobiliária autorizada pelo Conselho Federativo Estadual, atendendo à proposta do então Presidente, Gerson Luiz Tavares, redundou em mudança dessa sede para região mais tranquila, com maiores espaços para as suas atividades, e tendo à volta comunidades sequiosas de vibrações espirituais mais próximas: O bairro Monte Cristo, que conta, há muitos anos, com a estrutura do Lar Fabiano de Cristo, entidade assistencial respeitável, com organização abrangente em vários Estados do Brasil.
28. E a nova sede foi inaugurada em 12 de fevereiro de 2011, contando com a presença de Presidentes e representantes de todas as Uniões Regionais Espíritas do Estado, que são órgãos descentralizados da Federação; de grande parcela de trabalhadores espíritas de Florianópolis; e, ainda, do Sr. Antonio Cesar Perri de Carvalho, Presidente da Federação Espírita Brasileira Secretário Geral do Conselho Federativo Nacional à época.
29. Nos dias atuais, o trabalho de União e Unificação prossegue. União dos Espíritas e Unificação do Movimento, gerando a real fraternidade. Temos, segundo o IBGE, em seu Censo realizado em 2010, cerca de 100.000 (cem mil) indivíduos que se declararam espíritas, embora se reconheça que o número dos que aceitam os princípios da Doutrina é bem maior. São filiadas à Federação, até o final de 2013, 150 (cento e cinquenta) entidades, situadas nos mais diversos recantos do Estado, e a cada momento outras mais vêm aderindo à grande família espírita catarinense. As 16 (dezesseis) Uniões Regionais Espíritas – os órgãos descentralizados da FEC – permanecem atentas aos anseios dessas Casas, intermediando diretrizes e orientações e, no sentido inverso, recebendo sugestões e propostas que são levadas ao Conselho Federativo Estadual, órgão máximo da Federação, para análise, deliberação e divulgação.
30. A filiação dos Centros e Sociedades Espíritas à FEC não interfere e jamais interferirá nas suas respectivas autonomias, conforme já mencionado. Mas há que reconhecer-se “as funções coordenadoras da Federaçãoe sua primazia quanto à responsabilidade na condução do programa coletivo e do movimento de unificação” e “a subordinação dos planos e interesses às expressões doutrinárias e aos de evolução espiritual, assinalados na obra codificada por Allan Kardec”, conforme artigo 3º. do Estatuto Social.
31. A atual Diretoria é composta por seis Vice Presidências, quais sejam: De Administração, de Finanças, de Educação e Difusão, de Estudo e Prática da Mediunidade, de Assistência Social e de Cultura e Ciência.
32. Cada uma dessas Vice Presidências conta com uma estrutura própria, reunindo em torno de si responsáveis por Departamentos e Setores, além do que as quatro últimas, chamadas finalísticas (pois que são o real objetivo da Federação), possuem Núcleos de diálogo e reflexão, possibilitando a origem de assuntos e temas que fundamentarão ações e projetos futuros, beneficiando o Movimento.
33. O atual Estatuto da Federação Espírita Catarinense esclarece, em seu artigo 2º., as finalidades da instituição, do qual extraímos:
a) “Promover a união das entidades espíritas catarinenses, entre si e no processo de unificação nacional e internacional;”
b) “Desenvolver a pesquisa, o estudo, a difusão e a divulgação do Espiritismo;”
c) “Fomentar, orientar e assessorar a prática da assistência social, como programa educativo e de integração familiar;”
d) “Estimular a compreensão da caridade, como valor subjetivo essencial à evolução do espírito.”
34. Justo aqui lembrarmos que a Federação Espírita Catarinense, através dos seus representantes credenciados, se faz presente junto ao Conselho Federativo Nacional, da Federação Espírita Brasileira, com as mesmas funções de intermediação às diretrizes, propostas e sugestões dele emanadas. Consequentemente, a instituição espírita, por menor e mais simples seja ela, participa ativamente da organização federativa nacional, orientadora desse processo de Unificação, ao mesmo tempo em que esse órgão superior possibilita-lhe a palavra e a permuta de experiências com outros Centros, de todos os rincões do Brasil.
35. Registre-se também, neste apanhado, que a criação do Conselho Federativo Nacional é produto de trabalho realizado por irmãos idealistas, mas seguros de si, dentre os quais o próprio Luiz Antonio Ferreira de Mello, que representou a FEC e secretariou a reunião na qual foram firmadas as bases para o Movimento Espírita Brasileiro e da qual resultou o documento denominado “pacto áureo”, em 05 de outubro de 1949.
36. Já estruturados na necessidade de que os Estados do Brasil tivessem, cada qual, suas Federativas, para a realização das atividades próprias à coordenação desse Movimento, companheiros intimoratos, dentre os quais Leopoldo Machado, Carlos Jordão da Silva, Ary Casadio, Luiz Burgos e Arthur Lins de Vasconcelos Lopes partem em caravana, no ano seguinte, atravessando o Brasil e fundando ou reestruturando Federações, consolidando, em nosso País, um trabalho que foi supervisionado, da espiritualidade, por Bezerra de Menezes, CairbarSchutel, José Petitinga e outros.
37. O Conselho Federativo Nacional conta hoje, portanto, com representantes de 27 órgãos de Unificação, que são as federativas Estaduais, dentre as quais a Federação Espírita Catarinense. Em sua reunião ordinária anual, o CFN analisa e discute proposições as mais diversas, que visem a manutenção da plena solidariedade entre os membros da grande família espírita brasileira.
38. Como um apêndice necessário ao Conselho Federativo Nacional e face à imensidão territorial do Brasil, foram criadas, mais tarde, as chamadas Comissões Regionais, abrangendo Estados de quatro regiões do País: Norte, Nordeste, Centro e Sul, esta última contando com os órgãos federativos dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, cujos dirigentes e coordenadores de áreas de trabalho reúnem-se anualmente,pela similaridade de interesses e propósitos, no mês de abril, tecendo diretrizes regionais próprias, mas que serão consolidadas na reunião do CFN, em novembro de cada ano.
39. É o Movimento Espírita, coerente com os postulados da Codificação, mantendo o espírito de fraternidade entre todos os profitentes da nossa Doutrina.
Santa Catarina, 02 de Julho de 2014
Olenyr Teixeira
Federação Espírita Catarinense